Texto Básico: Filipenses 2:19-30
“Espero,
porém, no Senhor Jesus, mandar-vos Timóteo, o mais breve possível, a
fim de que eu me sinta animado também, tendo conhecimento da vossa
situação” (Fp 2:19 –ARA)
INTRODUÇÃO
Na
Aula 04, vimos Paulo apresentar o Senhor Jesus como o exemplo, o modelo
de supremo de humildade. Mas alguém poderia argumentar: “Sim, mas Jesus
era Deus e nós somos simples mortais”. Por isso, na Carta aos
Filipenses, Paulo dá três exemplos de homens que manifestavam essa mesma
atitude de Cristo: ele mesmo (Paulo – Fp 2:17,18), Timóteo e
Epafrodito(Fp 2:19-30). Se compararmos Cristo ao Sol, esses três homens de Deus são luas refletindo a glória do Sol. São
luzeiros num mundo em trevas. É bom nos conscientizarmos que, conquanto
sejamos luz do mundo, não temos luz própria. Nós somos apenas como a
lua, refletimos a luz do Sol (Jesus Cristo).
Nesta
Aula, cabe uma reflexão do pastorado contemporâneo à luz do contexto
evangélico atual. A cada ano a igreja evangélica se torna mais forte,
midiática, política e numerosa. A tentação de homens desejarem o
"episcopado" pela motivação errada é enorme. Não há outro caminho a ser
feito para evitar as motivações erradas que o da humilhação,
voluntariedade e simplicidade. Por isso todo candidato ao Ministério
Eclesiástico precisa mergulhar profundamente no compêndio doutrinário da
Igreja, o Novo Testamento, e vivenciar a vida daqueles que deram tudo
de si para o engrandecimento do Reino de Cristo. Trataremos, à luz de
Filipenses 2:19-30, da dedicação e fidelidade de Paulo, Timóteo e
Epafrodito, homens que não mediram esforços para que a Obra de Cristo
fosse plenamente exitosa.
I. A PREOCUPAÇÃO DE PAULO COM A IGREJA
O
apóstolo Paulo era um verdadeiro pastor: provado e aprovado por Cristo.
Um líder comprometido com o pastorado. Um líder que amava a Igreja de
Cristo. Um líder que valorizava as pessoas. Embora estivesse tão
distante, cerca de mil e cem quilômetros, tinha o seu coração inclinado
para os cristãos de Filipos. Ele era um líder que amava a igreja e se
preocupava com ela. Sem dúvida, estas são características basilares de
um verdadeiro pastor. São as mesmas que vivenciava o seu Líder-mor,
Jesus. Ele chegou a dizer que: "O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas" (João
10:11). Não há dúvidas que esta era a disposição do apóstolo Paulo.
Somente dá a vida por alguém aquele que compreende o real valor do
outro. Para o apóstolo o valor de uma vida era incalculável. Por isso,
mesmo preso, Paulo informa o seu plano de enviar Timóteo a Filipos e a
ida de Epafrodito, levando informações escritas, a saber, a Epístola de
Filipenses, para assegurar aos cristãos daquela comunidade do bem-estar
de Paulo. Estes obreiros, os quais foram preparados por Paulo, eram
pessoas da sua maior confiança. Eles haviam aprendido o modelo paulino
de liderança. Eles sabiam que o exercício do ministério de serviço
(pastorado) deve levar em conta a humildade, a disposição e o amor pelas
pessoas que constituem o rebanho.
A preocupação de Paulo com a igreja é demonstrada neste conselho contundente e bastante contemporâneo, ao pastor Timóteo: "Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido"
(2Tm 3:14). Este era o grande desafio para os obreiros de Filipos. Por
ser uma igreja nova na fé o perigo de os seus obreiros desviarem-se do
alvo era iminente. Falsos ensinadores, os gnósticos e judaizantes, se
multiplicavam nas cercanias da igreja filipense.
O
ministério pastoral nunca pode ser encarado numa perspectiva
dominadora; mas, servidora, espontânea e voluntária. Deve ser
manifestada no mesmo "espírito" de Pedro: "apascentai o rebanho de
Deus que está entre vós, tendo cuidado dele, não por força, mas
voluntariamente [...] nem como tendo domínio sobre a herança de Deus,
mas servindo de exemplo ao rebanho" (1Pe 5:2,3).
II. O ENVIO DE TIMÓTEO A FILIPOS (Fp 2:19-24)
Timóteo
estava com Paulo em Roma quando o apóstolo escreveu a carta aos
Filipenses. Ele tinha viajado com Paulo em sua segunda viagem
missionário, quando a igreja em Filipos ainda estava no início, de modo
que os filipenses conheciam Timóteo. Paulo não podia visitar os
filipenses, de maneira que ele esperava enviar Timóteo em seu nome.
Timóteo tinha visitado várias igrejas como representante de Paulo em
outras ocasiões (cf 1Co 4:17; 15:10; 1Ts 3:2).
Veja algumas qualidades especiais de Timóteo que o credenciaram como um Obreiro de confiança do apóstolo Paulo para a missão especial à Igreja de Filipos(Adaptado do livro Filipenses – Rev. Hernandes Dias Lopes):
1. Timóteo, um obreiro de bons Antecedentes. Sua
mãe e sua avó eram crentes (2Tm 1:5). Ele conhecia a Palavra de Deus
desde a infância (2Tm 3:15). Converteu-se na primeira viagem missionária
de Paulo e cresceu espiritualmente, pois passou a ter bom testemunho em
sua cidade antes de unir-se ao apóstolo em sua segunda viagem
missionária (At 16:1,2). Timóteo era filho de Paulo na fé (1Tm 1:2),
cooperador de Paulo (Rm 16:21), e mensageiro de Paulo às igrejas (1Ts
3:6; 1Co 4:17; 16:10,11; Fp 2:19). Ele esteve preso com Paulo em Roma
(Fp 1:1; Hb 13:23). Ele tinha um caráter provado (Fp 2:22) e cuidava dos
interesses de Cristo (Fp 2:21) e dos interesses da Igreja de Cristo (Fp
2:20). Esteve presente quando a igreja de Filipos foi estabelecida (At
16:11-40; 1Ts 2:2) e, ainda, subsequentemente também os visitou, mais de
uma vez (At 19:21,22; 20:3-6; 1Co 1:1). Portanto, ele era o obreiro
indicado para ser enviada novamente à igreja de Filipos.
2. Timóteo, um homem singular (Fp 2:20a).
Ele era um homem singular pela sua obediência e submissão a Cristo e ao
apóstolo Paulo como um filho a um pai. Havia muitos cooperadores de
Paulo, mas Timóteo ocupava um lugar especial no coração do veterano
apóstolo.
3. Timóteo, um homem que cuidava dos interesses dos outros (Fp 2:20b).
Ele aprendeu o princípio ensinado por Paulo de cuidar dos interesses
dos outros (Fp 2:4), princípio esse exemplificado por Cristo (Fp 2:5) e
pelo próprio apóstolo (Fp 2:17).
Timóteo
vivia de forma altruísta, pois o centro da sua atenção não estava em si
mesmo, mas na Igreja de Deus. Ele não buscava riqueza, nem promoção
pessoal. Ele não estava no ministério em busca de vantagens; ele tinha
um alvo: cuidar dos interesses da igreja.
4. Timóteo, um homem que cuidava dos interesses de Cristo (Fp 2:21). Só
existem dois estilos de vida: daqueles que vivem para si mesmos (Fp
2:21) e daqueles que vivem para Cristo (Fp 1:21). Timóteo queria cuidar
dos interesses de Cristo, e não dos seus próprios. Sua vida estava
centrada em Cristo (Fp 2:21) e nos irmãos (Fp 2:20b), e não no seu
próprio eu (Fp 2:21). Embora alguns em Roma pregassem o evangelho "por
amor" (Fp 1:16), de todos quantos estavam disponíveis perante Paulo,
nenhum era tão destituído de egoísmo quanto Timóteo. Para Timóteo, como
para Paulo, a causa de Cristo Jesus envolvia o bem-estar de seu povo.
5. Timóteo, um homem de caráter provado (Fp 2:22). Timóteo
desfrutava de um bom testemunho antes de ser missionário (At 16:1,2), e
agora, quando Paulo está para lhe passar o bastão, como continuador da
sua obra, dá testemunho de que ele continua tendo um caráter provado (Fp
2:22).
É
lamentável que muitos líderes religiosos que são grandes em fama e
riqueza sejam anões no caráter. Vivemos uma crise avassaladora de
integridade no meio evangélico brasileiro. Precisamos urgentemente de
homens íntegros, provados, que sejam modelo do rebanho.
III. EPAFRODITO, UM OBREIRO DEDICADO (Fp 2:25-30)
25. Julguei,
contudo, necessário mandar até vós Epafrodito, por um lado, meu irmão,
cooperador e companheiro de lutas; e, por outro lado, vosso enviado e
vosso auxiliar nas minhas necessidades;
26. Porquanto tinha muitas saudades de vós todos e estava muito angustiado de que tivésseis ouvido que ele estivera doente.
27. E,
de fato, esteve doente e quase à morte, mas Deus se apiedou dele e não
somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre
tristeza.
28. Por isso, vo-lo enviei mais depressa, para que, vendo-o outra vez, vos regozijeis, e eu tenha menos tristeza.
29. “Recebei-o, pois, no Senhor, com toda a alegria, e honrai sempre a homens como esse”;
30. Porque,
pela obra de Cristo, chegou até bem próximo da morte, não fazendo caso
da vida, para suprir para comigo a falta do vosso serviço.
O apóstolo Paulo agora se volta de Timóteo para Epafrodito.
Este valoroso e dedicado obreiro só é citado na Carta aos Filipenses,
no capítulo 2:25-30 e no capítulo 4:18, mas é o suficiente para
compreendermos seu profundo amor por Jesus e pela Igreja.
Não
sabemos se ele é o Epafras de Colossenses 4:12. Não há como afirmar
isso com certeza. Em todo caso, sabemos que morava em Filipos, era um
gentil, e que pode ter sido um presbítero da igreja.
Vejamos, em resumo, uma análise do texto de Fp 2:25-30.
“...
por um lado, meu irmão, cooperador e companheiro de lutas; e, por outro
lado, vosso enviado e vosso auxiliar nas minhas necessidades” (Fp 2:25).
- “por um lado, meu irmão, cooperador e companheiro de lutas”. Paulo
queria que os filipenses soubessem o quanto ele estimava Epafrodito, de
modo que ele o caracterizou através de três nomes (cf Fp 2:25):
· meu irmão, significando um irmão em Cristo. Se
nós estamos em Cristo, há um elo de amor fraternal que nos une uns aos
outros. Essa é uma palavra que destaca a relação de família.
· meu cooperador, que significa que ele também estava trabalhando para o Reino de Deus.Epafrodito era um trabalhador na obra de Cristo e um ajudador de Paulo.
· meu companheiro nos combates, referindo-se à solidariedade entre os crentes que estão lutando na mesma batalha. A
vida cristã não é um parque de diversões, uma colônia de férias, mas um
campo de guerra. Epafrodito estava no meio desse campo de lutas com o
apóstolo Paulo. Epafrodito
era um homem que sabia trabalhar com os outros, qualidade essencial na
vida cristã e no serviço do Senhor. Sejamos “cooperadores e companheiros
de lutas”, para o bem da obra do Senhor.
- “por outro lado, vosso enviado e vosso auxiliar nas minhas necessidades”. Paulo declara ser Epafrodito um “enviado”,
ou seja, um mensageiro para prover as suas necessidades. Percebemos
nisso, outra indicação importante de sua personalidade. Aqui, Paulo descreve Epafrodito de duas maneiras em relação ao seu serviço à igreja:
· Primeiro, ele é descrito como um “enviado”, ou seja, um mensageiro, um “apóstolo” da igreja. Aqui a palavra "apóstolo" tem o sentido "daquele que é enviado com um recado".
A missão de Epafrodito não foi apenas a de trazer a Paulo o donativo da
igreja filipense, mas também a de servir a Paulo de qualquer forma que
fosse requerida. Portanto, Epafrodito fora “enviado” tanto para levar
uma oferta quanto para ser uma oferta dos filipenses a Paulo.
· Segundo, ele é descrito como “auxiliar” da igreja para ajudar Paulo. Paulo
quer nos ensinar que o crente é um sacerdote que ministra um culto a
Deus enquanto atende às necessidades dos outros. Epafrodito fazia do seu
serviço prestado à igreja uma “liturgia” e um culto a Deus. Epafrodito
tinha ido a Roma não apenas para levar recursos financeiros para Paulo,
mas também para ministrar às necessidades espirituais de Paulo, sem
prazo determinado para voltar.
Esse dedicado obreiro colocou
as necessidades dos outros acima de suas próprias. Ele estava sempre
pronto a fazer os trabalhos mais comuns e menos honrosos. Hoje, são
muitos os interessados em trabalhos agradáveis e visíveis. Deve-se
reconhecer e agradecer a Deus a vida daqueles que fazem trabalho
rotineiro, sem alarde e sem visibilidade. Por fazer o trabalho árduo,
Epafrodito se humilhou. Deus, porém, o exaltou, registrando seu fiel
serviço no capítulo 2 da Carta aos Filipenses, para conhecimento das
gerações vindouras.
“Porquanto
tinha muitas saudades de vós todos e estava muito angustiado de que
tivésseis ouvido que ele estivera doente. E, de fato, esteve doente e
quase à morte, mas Deus se apiedou dele e não somente dele, mas também
de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza” (Fp 2:26,27).
A igreja de Filipos enviou
Epafrodito a uma distância de pelo menos mil e cem quilômetros para
prestar ajuda a Paulo. O fiel mensageiro adoeceu como resultado disso,
pouco faltando para morrer. Essa situação deixou Epafrodito preocupado –
não com sua doença, mas pelo receio de que os santos de Filipos viessem
a saber disso e se culpassem por tê-lo enviado naquela viagem, pondo
sua vida em risco. Vemos em Epafrodito verdadeiramente “um coração
despreocupado quanto a si mesmo”.
Estes versículos são muito importantes para esclarecer sobre o assunto da cura divina:
- Em primeiro lugar,
a doença nem sempre é consequência de pecado na vida. Epafrodito
adoeceu por ser fiel no cumprimento de suas responsabilidades - cf. v.30
-: “pela obra de Cristo, chegou até bem próximo da morte”.
- Em segundo lugar,
nem sempre é da vontade de Deus a cura instantânea e miraculosa da
pessoa. Pelo que se vê, a doença de Epafrodito se prolongou, e sua
recuperação foi lenta (cf. também 2Tm 4:20; 3João 2).
- Em terceiro lugar, a
cura é pela misericórdia de Deus, e não coisa que possamos exigir dEle
como nosso direito. A cura de Epafrodito foi um ato da misericórdia de
Deus. Não há aqui qualquer palavra de Paulo acerca da cura pela fé.
Simplesmente o apóstolo afirma que Deus teve misericórdia dele e de
Epafrodito. Portanto, precisamos nos acautelar acerca dos embusteiros
que enganam os incautos com falsos milagres e se enriquecem com
promessas vazias.
“Por isso, vo-lo enviei mais depressa, para que, vendo-o outra vez, vos regozijeis, e eu tenha menos tristeza”(Fp 2:28).
Depois que Epafrodito se recuperou, Paulo se apressou em mandá-lo para casa. Epafrodito pode
ter sido enviado a Roma para permanecer com Paulo indefinidamente,
ministrando e encorajando o apóstolo, que estava preso. Como Timóteo,
ele colocava a necessidade de outro à frente da sua (veja Fp 2:4).
Todavia, depois de sua severa enfermidade (Fp 2:26), Paulo achou
necessário enviá-lo de volta a Filipos. Epafrodito tinha feito o seu
trabalho tão bem, que poderia voltar a Filipos levando consigo uma Carta
de agradecimento e estímulo de Paulo.
“Recebei-o, pois, no Senhor, com toda a alegria, e honrai sempre a homens como esse”(Fp 2:29 - ARA).
Os filipenses não deviam apenas receber Epafrodito com alegria, mas também honrar esse
querido homem de Deus. O mundo honra aqueles que são inteligentes,
belos, ricos e poderosos. Que tipo de pessoa a igreja deve honrar?
Epafrodito foi chamado de irmão, cooperador, companheiro de lutas,
mensageiro e auxiliar. Esses são os emblemas da honra. Paulo nos
encoraja a honrar aqueles que arriscam a própria vida por amor de Cristo
e o cuidado dos outros, indo onde não podemos ir por nós mesmos.
“Porque,
pela obra de Cristo, chegou até bem próximo da morte, não fazendo caso
da vida, para suprir para comigo a falta do vosso serviço” (Fp 2:30).
A
viagem, de Filipos a Roma, era uma longa e árdua jornada de mais de mil
quilômetros. Associar-se a um homem acusado, preso e na iminência de
ser condenado também constituía um risco sério. Entretanto, Epafrodito
se dispôs a enfrentar todas essas dificuldades pela obra de Cristo a
favor da assistência material e espiritual a Paulo na prisão. Na
verdade, Epafrodito jogou sua própria vida pela causa de Jesus Cristo
arriscando-a temerariamente. A sua doença estava intimamente ligada ao
seu incansável trabalho para Cristo. Isso é algo precioso aos olhos do
Senhor. Isso é digno de ser imitado.
Observe os termos: “para suprir para comigo a falta do vosso serviço”. Acredita-se
que esses termos se refiram à impossibilidade de os filipenses
visitarem Paulo pessoalmente e assim ajudá-lo, por causa da distância
entre Filipos e Roma. O apóstolo, portanto, não os está repreendendo,
mas apenas afirmando o que Epafrodito fez como representante deles,
suprindo o que eles não podiam fazer em pessoa.
Diante do exposto, há dúvida de que Epafrodito foi um obreiro dedicado à Obra de Cristo? Creio que não!
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