DEUS DÁ A SUA LEI AO POVO DE ISRAEL
Prof. Adaylton de Almeida Conceição
A lição da CPAD para o
primeiro trimestre de 2015 é uma lição que dispensa comentários.
Primeiro por tratar de um tema quase que inédito e em segundo lugar pelo
nível da pessoa que faz os comentários. Se trata do Reverendo Dr.
Esequias Soares, da cidade de Jundiaí-SP. Ao ser galardoado com sua
amizade, tenho podido ao seu lado, aprender, além das profundidades
bíblicas, uma lição de verdadeira humildade. Um verdadeiro cientista da
Bíblia, conhecedor das línguas originais e um verdadeiro amante das
verdades eternas. A clareza de seus escritos, a profundidade traduzida
de forma simples e colocado ao alcance de todos faz com que os
estudantes da lição deste trimestre se sintam privilegiados em ter em
suas mãos um conteúdo tão claro, esclarecedor e de fácil compreensão.
Assim que, para nós que resumimos o conteúdo dos estudos, só temos que
nos juntar aos demais leitores e desfrutar de tão preciosa lição.
INTRODUÇÃO.
Quando Wyclif escreveu
de sua Bíblia em inglês que “Esta Bíblia é para o governo do povo, pelo
povo, e para o povo”, sua declaração não atraiu nenhuma atenção até onde
dizia respeito sua ênfase sobre a centralidade da lei bíblica. Que a
lei deveria ser a lei de Deus era mantido por todos; Wyclif afastou-se
da opinião aceita ao dizer que o próprio povo deveria não somente ler e
conhecer essa lei, mas também em algum sentido governar bem como ser
governado por ela.
Aproximadamente entre os
anos de 1440 e 1290 a.C. mais de 2 milhões de ex-escravos iniciaram uma
longa jornada do Egito para a Terra Prometida…Os israelitas foram
levados para a base da península do Sinai, um deserto estéril e
causticante, com uma dimensão aproxima de 38.400km2. Uma multidão de
pessoas acompanhadas de seus rebanhos e criações moviam-se
vagarosamente, às vezes até 18km por dia. Caminhavam seguindo rastros
das nascentes de água, seguindo um caminho antigo utilizado muito tempo
antes por escravos egípcios que trabalhavam nas minas de bronze e pedras
preciosas do sul. Três meses depois da saída do Egito, os israelitas
chegaram ao Monte Sinai, uma altura de 2.400m no topo das montanhas do
sul, estabelecendo um acampamento numa colina à sombra da imponente
montanha. Ficaram ali por cerca de 1 ano.
Foi durante esse tempo
que Deus estabeleceu sua aliança com o povo que Ele mesmo milagrosamente
livrara da escravidão. Esta aliança, de acordo com os contratos da
época do Oriente Médio, era uma combinação de privilégios e obrigações.
Do monte Sinai Deus
entregou a aliança durante um encontro face a face com Moisés, o líder
escolhido. E foi Moisés quem transmitiu a mensagem aos filhos de Israel,
carregando pelas montanhas duas peças de pedra, nas quais, Deus havia
escrito as leis com suas próprias mãos.
“…e Ele deu a Moisés no Monte Sinai duas tábuas de pedra escritas com o dedo de Deus”. Êxodo 31.18.
MOISÉS, O INSTRUMENTO DE DEUS PARA A ENTREGA DA LEI.
Por intermédio de
Moisés, Deus deu leis à casa de Israel para substituir a lei mais
elevada que eles deixaram de obedecer (Êx. 34; Êx. 34:1–2; Deut. 10:2). A
lei de Moisés consistia de muitos princípios, normas, cerimônias,
rituais e símbolos que tinham o fim de fazer o povo lembrar-se de seus
deveres e responsabilidades. Incluía a lei moral, ética, religiosa,
mandamentos e cerimônias físicas—inclusive sacrifícios (Lev. 1–7)—com a
finalidade de fazer com que se lembrasse de Deus e da obrigação que
tinham para com ele.
Nosso estudo sobre os
Dez Mandamentos será grandemente enriquecido se primeiramente
considerarmos o panorama geral da lei de Deus como apresentado nas
Escrituras.
A Palavra "Lei" e os Seus Múltiplos Significados
A palavra "lei", com
frequência é usada para descrever as diferentes partes da revelação de
Deus a respeito de si mesmo. Quando encontrarmos esta palavra, é
necessário discernirmos seu sentido específico e o contexto no qual ela
está sendo usada.
A palavra "lei" é muitas
vezes utilizada para se referir ao Pentateuco ou os primeiros cinco
livros de Moisés (Lucas 24:27). Moisés numa maneira única e singular
recebeu e relatou a lei de Deus (João 1:17).
A LEI E OS 10 MANDAMENTOS
Quando se menciona
Assêret Hadibrot, mais comumente conhecida como os Dez Mandamentos,
algumas pessoas possuem uma falsa impressão de que existem Dez
Mandamentos que foram separados como sendo os mais importantes da Torá.
Mas na verdade a tradução correta de Assêret Hadibrot é "Dez Falas" ou
"Dez Ditos", sendo que estes são dez princípios que incluem toda a Torá e
seus 613 preceitos, inclusive estes dez. Assim que a LEI não se resume
em apenas dez mandamentos.
A palavra "lei" é muitas
vezes utilizada para designar todo o sistema cerimonial de adoração
entregue à Israel. Isto incluiria o tabernáculo, sacerdócio, ofertas,
dias santos e as leis de dieta alimentar do Velho Testamento (Hebreus
10:1; Hebreus 9:22).
As leis civis que Israel deveria obedecer são chamadas de “lei”. Êxodo 22- 24 nos dão um exemplo desta parte da lei.
Um certo grau de
conhecimento do certo e do errado foi implantado por Deus na consciência
humana (Romanos 2:14-15). Num sentido mais profundo, a lei é escrita no
coração daqueles que nascem de novo (Hebreus 8:10; Romanos 7:22).
A NATUREZA DO DECÁLOGO
O decálogo está dividido
em duas partes. Os primeiros quatro mandamentos tratam dos nossos
deveres para com Deus (Êxodo 20:1-11). Eles são resumidos nas Escrituras
pelo primeiro grande mandamento (Mateus 22:35-38). Os seis mandamentos
restantes tratam dos nossos deveres para com os homens. Eles são
resumidos no segundo grande mandamento. Isto prova a doutrina de Paulo
em Romanos 13:8-10.
Cada um dos Dez
Mandamentos somente apontam para o dever principal de uma série de
deveres. Esta forma de representar o “todo” através do singular é
chamada de "Sinédoque”.
Vamos tomar por exemplo a
ordem “não matarás” que nos proíbe de ferir ou mesmo de desejar ferir
nosso próximo de alguma maneira (I João 3:15; Mateus 5:21-22). De fato o
dever oposto está também incluído e subentendido. A ordem de “não
roubarás” inclui o dever de proteger a propriedade do nosso próximo de
prejuízo ou perda quando está em nosso poder fazê-lo (Êxodo 23:4).
As leis de Deus proíbem aquilo que incite ou dê ocasião ao pecado (Compare Êxodo 20:14 com I Coríntios 7:1-2).
OS ANTECEDENTES BÍBLICOS DOS 10 MANDAMENTOS
Os dez mandamentos são
relatados duas vezes no Velho Testamento: a primeira vez no livro de
Êxodo (Êxodo 20:2-17), na passagem que descreve o presente de Deus a
Israel, e a Segunda vez em Deuteronômio (Deuteronômio 5:6-21), no
contexto de uma cerimônia de renovação da aliança. Moisés lembra o seu
povo da substância e do significado dos mandamentos, enquanto eles
renovam a sua lealdade à aliança com Deus.
O CONTEXTO DOS MANDAMENTOS E A ALIANÇA COM DEUS
Os mandamentos são
inseparáveis da aliança. Deus garantiu o seu comprometimento com Israel e
em retorno ele impôs certas obrigações sobre o povo israelita.
Apesar das obrigações de
Israel serem expressas detalhadamente mais pra frente, a expressão mais
precisa e sucinta é dada nos Dez Mandamentos. Os mandamentos listaram
os princípios mais fundamentais da lei hebraica. As leis detalhadas que
estão no Pentateuco, na maior parte, aplicam os princípios em situações
específicas. Desta maneira, o papel dos dez mandamentos na Israel antiga
era de dar direção a um relacionamento. Eles não deveriam obedecer só
por obedecer ou para ganhar algum tipo de crédito, mas sim para
descobrir a riqueza e a plenitude de um relacionamento com Deus.
O CONCERTO – PACTO, ALIANÇA ENTRE DEUS E ISRAEL.
Tão grande é a distância
entre Deus e a criatura, que, embora as criaturas racionais lhe devam
obediência como seu Criador, nunca poderiam fruir nada dele, como
bem-aventurança e recompensa, senão por alguma voluntária
condescendência da parte de Deus, a qual agradou-lhe expressar por meio
de um pacto.
O primeiro pacto feito
com o homem era um pacto de obras, também conhecido como “pacto
edênico”; nesse pacto foi a vida prometida a Adão e, nele, à sua
posteridade, sob a condição de perfeita e pessoal obediência.
Tendo-se o homem
tornado, pela sua queda, incapaz de ter vida por meio deste pacto, o
Senhor dignou-se a fazer um segundo pacto, geralmente chamado o pacto da
graça ou “pacto adâmico".
O texto do livro de
Gênesis fala de dois pactos ou alianças feitos com o ser humano. O
primeiro foi feito com Adão antes da queda e o segundo, feito depois da
queda, onde a salvação e a vida são oferecidas a todos. Esses dois
pactos estão "centralizados em torno do primeiro Adão e do segundo Adão,
que é Cristo."
CONCEITO DE PACTO OU ALIANÇA
O substantivo pacto
significa, segundo o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa,
"ajuste", "convenção" ou "contrato". Estes três substantivos são também
usados para definir o significado do substantivo aliança. Diferentes
versões da Bíblia em português usam os substantivos pacto, aliança,
acordo e concerto para traduzir o substantivo hebraico “berith” que
aparece cerca de 290 vezes no Antigo Testamento. Para todos esses
sinônimos a ideia básica que encontramos é a de união entre duas partes,
um pacto ou acordo bilateral.
A diferença fundamental
entre os pactos humanos e o pacto divino-humano encontra-se na motivação
do soberano Criador, que se propôs a criar e sustentar a sua criação,
estabelecendo assim um vínculo que, segundo a própria Escritura, só pode
ser um vínculo de amor.
O conceito de pacto,
portanto, é um conceito que deve ser entendido dentro dos vários
contextos onde aparece. Várias nuanças do pacto são dadas através dos
verbos que acompanham o substantivo.
Portanto, quando se
trata do pacto divino-humano pode-se dizer que o pacto é um vínculo/elo
de amor, iniciado e administrado pelo Deus triúno com a sua criação,
representada pelos nossos pais.
Verificamos que nesse
relacionamento, fruto dessa “aliança” ou “pacto” existe a verbalização
clara da parte de Deus do que seriam as bênçãos e as possíveis maldições
do pacto. Bênçãos e maldições são parte integrante dos pactos entre
soberanos e vassalos no antigo Oriente Próximo.
MOISÉS E O LIVRO DA LEI
Após proclamar Sua lei
no monte Sinai, Deus orientou Moisés a escrever um livro contendo
diversas leis civis, levíticas, sanitárias, tributárias, militares,
judiciais, e etc. (Êxodo 24:1-7 cf. Deuteronômio 4:13-14, Deuteronômio
31:24-26). E este livro é identificado como: livro de Moisés, livro da
Aliança, livro da Lei, livro da lei de Moisés e, lei de Moisés. Embora
Moisés tenha sido o responsável por escrevê-lo, os israelitas tinham
plena convicção de que todas as suas instruções eram provenientes de
Deus, e isso os motivaram a chamá-lo também de: "livro da lei do Senhor"
e "livro da lei de Deus". Assim, por este meio literário, a nação
israelita obtinha direcionamento tanto nas questões
políticas-administrativas quanto nas questões religiosas. Nota-se ainda
que o seu vasto conteúdo guiava, direta ou indiretamente, os israelitas
aos princípios exigidos pela lei de Deus (Dez Mandamentos). Deste modo,
eles poderiam aprender, vivenciar e ensinar os propósitos de Deus para a
humanidade.
Revdº. Adaylton de Almeida Conceição – (TH.B.Th.M.Th.D.)
Facebook – Adayl.Manancial
BIBLIOGRAFIA.
1- Adaylton de Almeida Conceição – Introducción a las Dispensaciones – STEM – Buenos Aires - Argentina.
2-
Alexander Roberts e James Donaldson, eds., Nicene and Post-Nicene
Fathers, First Series: Volume II, (Oak Harbor, WA: Logos Research
Systems, Inc.) 1997.
3-
Charles MacCoy e J. Wayne Baker, Fountainhed of Federalism: Heinrich
Bullinger and the Covenantal Tradition (Louisville: Westminster/Jonh
Knox, 1991), 99-138.
4- Paul Helm, "Calvin and the Covenant: Unity and Continuity," The Evangelical Quarterly (1983), 65-81, 67.
5- Ron Crisp – Introdução aos 10 Mandamentos
6- R. J. Rushdoony – A importância da Lei
Prof. Adaylton de Almeida Conceição, é Ministro do Evangelho, tendo exercido seu ministério no Amazonas e por mais de vinte anos trabalhou como Missionário na Argentina e Uruguai. É Escritor, Bacharel,
Mestre e Doutor em Teologia, Pós graduado em Ciências
PolíticasPsicanalista e Jornalista Profissional. É o Diretor da
Faculdade Teológica Manancial.