Na linguagem comum, estamos em mais um “ano político”, ou melhor, em mais um ano de eleições. Dois anos atrás fomos às urnas eleger deputados, senadores, governadores e presidente da República. Vêm aí as eleições municipais (vereadores e prefeitos). Certamente que o tema política, que é inquietante, complexo, intrigante e perigoso, vai voltar a efervescer.
Política quer dizer “governo da cidade”. Assim, como cidadãos devemos nos preocupar com o governo de nossas urbes. Estamos nelas inseridos diretamente, e com o dever de ser “sal” e “luz”, conforme Mt. 5.13,14. Ocorre que o grau de importância da política por vezes é superdimensionado, dados os interesses emergentes que se apresentam. É nesta hora que deve o pastor acautelar-se para não trazer prejuízos para seu ministério e para o rebanho que pastoreia.
Em primeiro plano, deve o pastor saber que sua liderança é eclesiástica, dada por Deus com finalidade espiritual (Ef. 4.11-16). Não deve cair no sutil engodo de pensar que seu ministério deve ser testado a par das questões políticas. O rebanho não é obrigado a segui-lo em suas pretensões e a frustração pode custar-lhe muito caro. O ministro do Evangelho não pode se envaidecer diante das insistentes procuras dos interessados em seu apoio, os quais geralmente aparecem exaltando sua capacidade de liderar.
Diga-se, desde logo, que é comum aos políticos sagazes abordar líderes religiosos com propostas de vagas para candidaturas, próprias ou de alguém que queiram indicar, sempre enfatizando o “poder de voto” que tem o pastor. Tais procuras, aliás, começam cedo, por causa da exigência legal de pelo menos um ano antes do pleito para as filiações partidárias.
Ocorre que tais convites são um engodo. Na maioria das vezes a finalidade é atrair o líder para o arraial da política e usá-lo depois como um destacado cabo eleitoral. Como o líder foi “convidado” para ser candidato, não aceitando sente-se constrangido se não apoiar aqueles “companheiros” da nova jornada que arriscadamente começa a trilhar, especialmente porque o fato de não ser candidato não o impedirá de alcançar determinadas vantagens durante e após as eleições.
Quando o quadro acima não se apresenta, ainda assim o líder é procurado, e desta vez já por aqueles que são pretensos candidatos – ou mesmo já pelos candidatos durante o período das campanhas eleitorais -, os quais querem seu apoio para suas candidaturas. Os mais abastados aparecem logo perguntando o que o pastor ou a igreja estão precisando. Obra em andamento é presa fácil para os mais interessados em agradar o líder e seu rebanho. Outro ponto fraco que encontram é a realização de grandes eventos festivos, para os quais se oferecem a ajudar.
Pastor com família grande, especialmente filhos solteiros, logo recebem a promessa das famosas “portarias”, ou seja, futuras nomeações para cargos em comissão, para os quais, chegam a insinuar: precisarão trabalhar pouco ou, talvez, nada. Poderão ser “fantasmas”, como se diz na linguagem comum.
Passagens aéreas para cantores e pregadores ou para o próprio pastor ou familiares também são facilmente oferecidas, especialmente quando o candidato já é detentor de mandato. Outros querem arrebanhar entre os fiéis os mais incautos possíveis para receberem um valor mensal para o período de campanha, incluindo especialmente o dia das eleições. Querem que sejam seus cabos eleitorais. Dentre os muitos que encontram geralmente estão bem-intencionadas irmãs do Círculo de Oração, que têm tempo disponível e não vêem mal algum na proposta.
Diga-se, desde logo, que o trabalho dos cabos eleitorais é lícito e legal, mas com duas observações: primeiro, não deve ser feito simplesmente pelo dinheiro, independente de quem seja o candidato. Se o pretendente não é digno de nosso voto, muito menos de nosso apoio público; segundo, o serviço desse ser na véspera do pleito, pois no dia das eleições é vedado pedir voto. Trata-se de boca de urna, tipificado como crime eleitoral.
Sobre os vícios que podem envolver os pastores, é sabido que um universo muito grande deles está livre dos tais (certamente a esmagadora maioria), pois pautam sua conduta ministerial pela mais alta lisura e vigilância, inclusive em assuntos relativos à política. São pastores que há muito aprenderam a não ceder a tais tentações e vaidades loucas e que desenvolvem seu trabalho na seara do Mestre sem quaisquer embaraços com negócios desta vida. Contudo, infelizmente existem alguns que têm por normal uma vida de comprometimento com a classe política local, participando de negociatas que não condizem com a dignidade do ministério cristão.
Além de estarem violando deveres espirituais, éticos e morais ligados ao serviço pastoral, estão incorrendo em práticas criminosas. Aceitar qualquer vantagem pessoal ou promessa de benefício em troca de voto é crime previsto no art. 299 do Código Eleitoral, passível de pena de reclusão de até 4 anos. Trata-se da nefasta corrupção eleitoral, que deságua, invariavelmente, na corrupção administrativa, ou seja, aqueles que corrompem para se eleger têm a infeliz tendência de praticarem maior corrupção quando eleitos. O custo de uma eleição desonesta é compensado algumas vezes quando do exercício do mandato.
O pastor que participa ou induz o rebanho a participar de campanhas eleitorais ilícitas poderá estar anuindo, ainda que inconscientemente, com atos de corrupção que venham ser praticados durante a gestão. É por isso que a escolha dos candidatos deve ser coerente, isenta e livre de qualquer benefício imediato ou futuro. Ninguém está livre de votar em um candidato de passado limpo e vê-lo, no futuro, envolvido comprovadamente em corrupção. Todavia, se a corrupção começa antes do pleito e é de nosso conhecimento ou participação, não poderemos nos dar por desavisados depois.
Tudo isso não quer dizer que o pastor não deve orientar seu rebanho sobre o importante papel de votar, sobretudo advertindo-o exatamente dessas práticas ilícitas e apontando os atributos pessoais que devem buscar nos candidatos. Sejamos prudentes e sábios e o Senhor nos abençoará!
POR SILAS QUEIROZ - JI PARANÁ RO
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