Repensando as raízes do vício
Há um debate antigo sobre o alcoolismo: é problema na cabeça do sofredor – algo que pode superar a terapia da força de vontade, espiritualidade e diálogo, talvez – ou é uma doença física, que precisa de tratamento médico contínuo da mesma forma que exigem diabetes ou epilepsia? Cada vez mais o estabelecimento médico está se sobrepondo ao último diagnóstico. Nas evidências mais recentes, dez faculdades de medicina nos Estados Unidos apresentaram os primeiros programas de residência credenciados sobre a medicina do vício, nos quais médicos que concluíram a faculdade de medicina e a residência primária poderão passar um ano estudando a relação entre o vício e a química do cérebro.
“Este é o primeiro passo rumo ao reconhecimento, respeito e rigor à medicina do vício”, disse David Withers, que supervisiona o novo programa de residência no Centro de Tratamento de Dependência de Álcool e Entorpecentes Marworth, em Waverly, Pensilvânia.
O objetivo dos programas de residência, que começaram no dia 1º de julho com 20 alunos de várias faculdades, é estabelecer a medicina do vício como padrão especialmente com as linhas de pediatria, oncologia e dermatologia.
Os residentes tratarão os pacientes com uma série de vícios: álcool, drogas, remédios controlados, nicotina e muito mais – e o estudo da química do cérebro envolvida e o papel da hereditariedade.
“Antigamente, a especialidade estava muito mais voltada para os psiquiatras”, disse Nora D. Volkow, neurocientista encarregada do Instituto Nacional de Abuso de Drogas. “É uma falha do nosso programa de treinamento”.
Ela considera a falta de educação sobre o abuso de substâncias entre os médicos em geral “um problema muito sério”.
As faculdades que oferecem a residência de um ano são: St. Luke’s-Roosevelt Hospital em Nova York, Sistema Médico da Universidade de Maryland, Faculdade de Medicina da Universidade de Búfalo, Faculdade de Medicina da Universidade de Cincinnati, Faculdade de Medicina da Universidade de Minnesota, Faculdade de Medicina da Universidade da Flórida, Faculdade de Medicina John A. Burns da Universidade do Havaí, Faculdade de Medicina e Saúde Pública da Universidade de Wisconsin, Marworth e o Centro Médico da Universidade de Boston. Algumas, como a Marworth, oferecem programas de medicina do vício há anos, simplesmente sem credenciamento.
O novo credenciamento é cortesia do Conselho Americano de Medicina do Vício, ou ABAM, fundado em 2007 para promover o tratamento médico do problema. O grupo tem o objetivo de obter o credenciamento do Conselho de Credenciamento do Ensino Médico Graduado, passo que requer, entre outras coisas, o estabelecimento do programa em no mínimo 20 faculdades. Mas isso significaria que a especialidade em vícios iria se qualificar como residência 'primária’, que qualquer médico recém-formado poderia adquirir fora da faculdade.
Richard Blondell, presidente do comitê de treinamento do ABAM, disse que o grupo espera credenciar mais dez a 15 faculdades neste ano.
Bryce Vickmark/The New York Times
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