quarta-feira, 1 de agosto de 2012

NA DESPENSA DE DEUS TEMOS TUDO A NOSSA DISPOSIÇÃO

QUANDO A DESPENSA FICA VAZIA, O QUE FAZER?

I – A FALTA DE RECURSOS MATERIAIS MÍNIMOS PARA SOBREVIVÊNCIA É FRUTO DA ENTRADA DO PECADO NO MUNDO
- Temos visto neste segundo bloco do trimestre que o pecado, ao entrar no mundo, causou uma profunda desordem na ordem social, a ponto de retirar a igualdade que havia no relacionamento entre os homens, a começar da assimetria que se estabeleceu no próprio relacionamento entre homem e mulher (Gn.3:16).
- Este efeito nefasto do pecado originou uma vida social perversa, injusta, que leva a certas circunstâncias totalmente indesejadas pelo Senhor quando da criação do homem, mas que são resultado de sua vida pecaminosa, como a violência, que estudamos na lição 4 e a exclusão social, que estudamos na lição passada (lição 5).
- A palavra “despensa” é encontrada, na Versão Almeida Revista e Corrigida, apenas uma vez, em Lc.12:24, tradução da palavra grega “tameion” (ταμειον), cujo significado é o de uma câmara secreta, um local reservado para a guarda de alimentos e mantimentos.

II – A FOME É UMA REALIDADE QUE PODE ATINGIR OS HOMENS
- Visto que a fome é decorrência e consequência do pecado e que o Senhor não deixou de ser o Provedor de toda a humanidade, veremos que a realidade da carência de recursos mínimos materiais para a sobrevivência é algo que acompanha a vida humana sobre a face da Terra, inclusive dos que servem a Deus fielmente, já que consequência de estarmos numa terra que foi amaldiçoada pelo pecado.
- Quando o Senhor sentenciou o primeiro casal, determinou que o homem tivesse necessariamente de trabalhar para conseguir o seu sustento diário, trabalho este que seria duplamente penoso: primeiro, porque a natureza não lhe seria favorável neste processo e, em segundo lugar, porque teria de enfrentar, como já vimos, o egoísmo e a ganância dos demais homens, que, dominados pelo pecado, seriam egoístas e indispostos a ajudar o próximo.
- Assim é que as condições naturais e sociais poderiam, como podem, de improviso, repentinamente, comprometer a obtenção dos recursos mínimos materiais para a sobrevivência do homem.
- E isto vemos ocorrer na vida do “pai da fé”, do patriarca Abraão que, ainda quando se chamava Abrão, teve na fome o seu primeiro grande teste na sua vida com Deus. Partindo para a terra de Canaã, que lhe fora indicada por Deus como a terra que lhe seria dada e onde deveria peregrinar, o patriarca, após este grande gesto de fé, vê-se diante da privação dos recursos para sua sobrevivência. Em Gn.12:10, é dito com objetividade: “E havia fome naquela terra…”.

- A provisão dada por José a sua família não dispensou o trabalho. Apesar de José ter providenciado o sustento para Israel e os seus (Gn.45:11; 47:12), destinou-lhes uma porção da terra onde pudessem exercer a sua atividade pecuária, o seu ganha-pão (Gn.46:31-34). A provisão divina, como percebemos, jamais dispensa a obrigatoriedade do trabalho como fonte de obtenção de recursos para a subsistência.
- Isto fica bem realçado quando vemos a história de Israel no deserto. Liberto do Egito com mão forte pelo Senhor, Deus mostra, ao introduzir o Seu povo no deserto, local onde não se podia exercer qualquer atividade econômica, como é Ele o Provedor da humanidade e, em especial, do povo que escolheu para Si.
- No caminho para a Terra Prometida, os israelitas tiveram, a exemplo de Abrão, de se confrontar com a carência de recursos mínimos para a sua sobrevivência. Logo em seguida ao grande milagre da passagem do Mar Vermelho, tiveram de enfrentar a realidade da falta de água do deserto. Lamentavelmente, a reação dos israelitas não foi das melhores: foi a murmuração em Mara, porque, ao encontrarem águas, elas eram amargas. Deus, ante aquela murmuração, mandou Moisés lançar um lenho nas águas, que se tornaram doces (Ex.15:23-25).

- A presença de Cristo Jesus em nossas vidas, a nossa intimidade com o Senhor faz-nos ver que todo o sofrimento que podemos ter, mesmo diante da carência material, não é para comparar com o que nos está reservado. A amargura da carência material torna-se algo doce quando olhamos para Jesus, o autor e consumador da nossa fé (Hb.12:2) e lembramos que Ele também teve fome (Mt.4:2), mas, mesmo diante deste momento de fragilidade, venceu o maligno e não deixou de confiar em Deus, tanto que, após esta vitória sobre a necessidade, foi servido pelos anjos (Mt.4:11).
- Ante a carência material, ante o amargor do momento difícil por que somos levados a passar, mesmo diante de tanta dificuldade, temos de confiar em Deus, jamais murmurar, sabendo que o “lenho verde” faz com que o amargo se torne doce em nossas vidas. Como dizem os poetas sacros Eufrosine Kastberg e Emílio Conde: “Em vez de murmurares, canta um hino de louvor a Deus; Jesus quer te dar vida santa, qual noiva levar-te pra os céus” (refrão do hino 302 da Harpa Cristã).

- Devemos depender de Deus em nossas carências materiais, pois o Senhor não está disposto a nos matar de fome ou de sede, mas, ao revés, quer tão somente que compreendamos que Ele é o Provedor e que d’Ele dependemos para sobreviver sobre a face da Terra.

III – NOSSO DEUS É O DEUS DA MULTIPLICAÇÃO
- Por vezes, entretanto, o Senhor opera o milagre da multiplicação, ou seja, não cria do nada algo para suprir as nossas necessidades materiais, mas faz com que o que já temos e que, aos nossos olhos é insignificante, para dali providenciar o nosso sustento e o de nossa família. É por isso que devemos seguir o que nos diz o profeta Zacarias para não desprezar o dia das coisas pequenas (Zc.4:10).
- É o que vemos no caso da viúva de Sarepta de Sidom. Aquela mulher gentia estava certa de que morreria de fome, juntamente com seu filho, diante daquela fome decorrente da ordem de Elias para que não chovesse sobre Canaã. Interpelada pelo profeta, disse que nada possuía a não ser um punhado de farinha numa panela e um pouco de azeite numa botija, suficiente apenas para uma pequena refeição, que entendia aquela mulher ser a última de sua vida (I Rs.17:12).
- No entanto, aquilo, que parecia ser tão insignificante, foi, pela fé daquela mulher, utilizado para que se fizesse um bolo pequeno para o profeta Elias e, a partir de então, não faltou mais farinha nem azeite até que voltasse a haver chuva sobre a terra (I Rs.17:15,16). O pouco que temos não deve ser desprezado, mas posto nas mãos do Senhor que tornará este pouco no suficiente para nosso sustento. Aleluia!
- Diferente não foi com outra viúva, agora nos dias de Eliseu, viúva de um dos filhos dos profetas. Premida pelos credores, sem recursos para satisfazer as dívidas e na iminência de perder seus filhos, a mulher correu até o profeta. Indagada sobre o que tinha em casa, também disse que nada tinha, a não ser uma botija de azeite (II Rs.4:1,2). Desta botija de azeite, como, aliás, vimos na lição anterior, a mulher não só obteve os recursos para pagar as dívidas, como também para sustentar a si e a seus filhos (II Rs.4:7).
- Ainda nos dias de Eliseu, um homem de Baal-Salisa veio trazer-lhe pães das primícias, vinte pães de cevada e espigas verdes na sua palha. Pelo que se deduz do texto sagrado, esta oferta daquele homem veio em boa hora, pois não havia ali nada para que o povo comesse. Ao receber esta oferta, o profeta mandou que isto fosse dado ao povo que com ele estava, em número de cem homens. O servo do profeta entendeu que aquela comida era insuficiente, mas o profeta mandou que todos dela comessem e todos se fartaram e ainda sobejou alimento (II Rs.4:42-44). Nosso Deus é o Deus da multiplicação!
- Estes relatos de multiplicações trazem-nos preciosas lições. A primeira é de que não podemos desprezar as coisas pequenas. O pouco que para nós é insignificante, insuficiente, se posto nas mãos do Senhor tornar-se-á suficiente. Quando consideramos que o pouco, nas mãos de Deus, será o suficiente, estamos, na verdade, aplicando a lição do maná, ou seja, reconhecendo que temos de nos humilhar e reconhecer que dependemos de Deus e não de nós mesmos.
- A segunda lição que nos advém das multiplicações é de que devemos levar o pouco que temos a Deus para que Ele nos oriente o que devemos fazer. Em todos estes relatos, vemos, com clareza, que a orientação divina foi fundamental para que o pouco se multiplicasse. O pouco somente se tornará o suficiente se estiver nas mãos de Deus e, por isso, temos de seguir-Lhe as orientações.
- A terceira lição que nos advém das multiplicações é a de que o pouco somente se torna suficiente quando há a entrega, há o compartilhamento. Se a viúva de Sarepta ficasse com a farinha e o azeite para si e sua família, não o compartilhasse com o profeta; se a viúva do filho do profeta não tivesse a ajuda dos vizinhos para ter onde depositar o azeite de sua botija; se o profeta Eliseu não dividisse a oferta que recebera com aqueles cem homens; se os donos dos pães e peixes não os entregassem a Cristo, o milagre da multiplicação não se realizaria.
- Deus pode do nada saciar a carência material de alguém, mas, também, pode fazer com que o pouco se torne o suficiente e, neste ponto, aliás, vem a tarefa da Igreja de ser aquela que reparte com os necessitados o pouco que tem pois, assim fazendo, fará com que o seu pouco se torne muito e sacie a todos quantos precisem, como vemos no episódio da coleta realizada por Paulo nas igrejas da Macedônia para suprimento das necessidades dos crentes da Judeia (II Co.8:1-4), como também na igreja de Jerusalém, onde, apesar de não serem os crentes ricos, pelo compartilhamento havido, não havia necessitado algum (At.4:34,35).
- É muito triste vermos, em nossos dias, que há muitos necessitados em nossas igrejas locais e que muitos estão à volta das igrejas locais padecendo necessidades sem que a Igreja tenha sequer interesse em ajudá-los. Tal atitude é a negação da nossa fé em Cristo Jesus, pois se não demonstramos nosso amor para com o próximo, como poderemos dizer que amamos a Deus (I Jo.3:16-18; 4:20,21)?
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- Temos de ter o mesmo sentimento de Cristo Jesus que, nas duas oportunidades em que operou o milagre da multiplicação dos pães, fê-lo porque teve compaixão da multidão. Será que temos tido compaixão daqueles que estão a ter carência do mínimo necessário para a sua sobrevivência? Ou temos agido como os discípulos, querendo que sejam despedidos, pouco importando se desfalecerão pelo caminho?
- A quarta lição que nos advém das multiplicações é a de que a multiplicação não dispensa o nosso trabalho. Mais uma vez vemos que é necessário fazermos a nossa parte. Assim, a viúva de Sarepta de Sidom teve de fazer o bolo pequeno para o profeta, continuar o serviço que começara; a viúva do filho do profeta teve de ir atrás dos vasos, enchê-los na companhia de seus filhos e, depois, vendê-lo no mercado para obter os necessários recursos financeiros de que precisava; a oferta recebida pelo profeta teve de ser preparada e a mesa posta para ser dada àqueles cem homens; a multidão teve de ser organizada para receber a alimentação e os discípulos tiveram de entregar os pães e os peixes a todos. Multiplicação não se dá sem trabalho!
- A quinta lição que nos advém das multiplicações é a de que Deus sempre está interessado em saciar as necessidades legítimas do ser humano. Em todos os episódios de multiplicação, vemos o interesse divino em suprir as aflições daqueles que estavam na iminência do perecimento por falta de recursos mínimos para a sua sobrevivência. O que já relatamos sobre a produção de alimentos no mundo é a prova de que Deus faz a Sua parte. Jesus quis alimentar as multidões, sentiu compaixão pelos que passavam fome e, como Ele é o mesmo (Hb.13:8), Seu sentimento não mudou. Não é por outro motivo que, no julgamento das nações, dirá que quem saciou a fome e a sede dos pequeninos, a Ele o fez (Mt.25:34-40).
- A sexta lição que nos advém das multiplicações é a de queé preciso que tenhamos fé e a exerçamos para que a multiplicação se realize. Sem fé, é impossível agradar a Deus, pois temos que crer que Deus existe e é o galardoador dos que O buscam (Hb.11:6). Se a viúva não faz primeiro o bolo pequeno ao profeta Elias; se a viúva do filho do profeta não pede emprestados os vasos aos vizinhos; se o servo do profeta não dá o alimento insuficiente para os cem homens; se os discípulos não começam a entregar os pães e os peixes à multidão, os milagres não teriam se realizado. É preciso que, diante da orientação divina, façamos aquilo que Deus nos manda, para que a multiplicação se opere.
- A sétima lição que nos advém das multiplicações é a de que a multiplicação é incompatível com o desperdício. O pouco torna-se o suficiente nas mãos de Deus e este suficiente se redundar em sobejo, tal sobejo não pode ser desperdiçado, mas, sim, recolhido e dado a quem está a necessitar. Por isso, se, no caso da viúva de Sarepta de Sidom, sobejo não houve, no caso da viúva do filho dos profetas foi mandado que vivesse do resto depois do pagamento da dívida, tendo havido também o recolhimento dos sobejos em alcofas após os milagres de multiplicação de Jesus. O que, certamente, também foi o que ocorreu na multiplicação operada com a oferta do profeta Eliseu, apesar do silêncio do texto bíblico, até porque o desperdício era algo não permitido na lei de Moisés, já que o desperdício dos alimentos revela descuido com os pobres, o que contraria frontalmente o teor da lei mosaica (Dt.15:4-11).

IV – NOSSO DEUS NÃO DESAMPARA O JUSTO
- Uma síntese de tudo quanto vimos é o texto áureo desta lição, que se encontra em Sl.37:25: “Fui moço e agora sou velho; mas nunca vi desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão”. Neste salmo, Davi mostra toda a sua confiança em Deus e revela a sua experiência de que um justo jamais fica desamparado, nem a sua descendência será de mendigos.
- Este texto tem sido utilizado indevidamente pelos “pregadores da prosperidade” para a construção de uma doutrina de que o salvo em Cristo Jesus não pode ser pobre nem padecer necessidades materiais pois, “se for justo, nunca empobrecerá”. Não é isto, porém, o que diz o salmista.
- Quando verificamos o contexto do salmo, vemos que Davi está a mostrar exatamente o contrário do que falam estes falsos pregadores. O contexto do salmo é de que não devemos invejar os ímpios, ainda que eles pareçam estar em situação confortável, inclusive e principalmente do ponto-de-vista material. Os ímpios podem “estar por cima” nesta terra, mas isto tudo é passageiro e a eternidade revelará claramente o que é ser ímpio (Sl.37:1,2). Estamos daqui diante do “espelho da Providência”, como diz o pai da Igreja Tertuliano (160-220).
- O caminho para o justo é confiar em Deus e entregar-Lhe o caminho, pois, certamente, o Senhor concederá o desejo de nossos corações (Sl.37:3-5). Devemos fazer o bem e confiar em Deus, é esta a mensagem do salmista (Sl.37:6-8).
- “Vale mais o pouco que tem o justo do que as riquezas de muitos ímpios” (Sl.37:16), diz Davi que, antes de se tornar rei, quando já era casado com a filha do rei, também passou pela fome, a ponto de ter de se alimentar dos pães da proposição, quando, de repente, perdeu posição, mulher e tudo quanto possuía, tendo de fugir com a roupa do corpo e nada mais (I Sm.19:18, 21:1-6).


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